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27 agosto 2013

UMA ÁRVORE E O CAMINHO

Pelo caminho, ainda bem cedo, vinha pensando no que te dizer para dar a plena certeza de que este momento é apenas uma parte do processo lento de crescimento. Mas como, se eu mesma ainda estou em processo? As palavras não foram criadas para dar certezas, mas apenas para distrair a mente enquanto a vida acontece. Mas no caminho havia uma árvore! Essa aí da foto. A natureza é igual para todos - tudo ocorre de forma semelhante. Parei em frente à bela e frondosa árvore. Sabia que havia ali uma mensagem que poderia me ajudar a te dizer o que as palavras não conseguem. As árvores guardam sabedoria sim, talvez por isso os monges budistas preferiam sentar-se embaixo de árvores para meditar e atingir a iluminação. Cultivo bonsais, o que não me dá espaço para meditar sob as singelas copas, mas o meu caminho é repleto de lindas árvores, que falam sempre que me disponho a ouvi-las, ou quando não sei o que dizer a quem amo. Pronto... lá vai a divagação puxando essa distraída Hanna pelos cabelos...rs. Mas ao me dispor ao chamamento daquela árvore, entendi o que poderia dizer para curar a minha e a tua ansiedade, defeito que nos esgota a capacidade de sonhar e modelar uma realidade mais afortunada. Ela apenas me deixou ver-lhe a natureza própria de árvore, e então  uma intuição sussurrou ao meu ouvido: na natureza tudo repete a mesma ordem. E pensei nela como uma semente minúscula, na cova escura, lutando para cumprir o destino que agora podemos testemunhar - raízes profundas, tronco forte, espraiado em vários galhos, copa frondosa, quem sabe até dê flores e frutos...  Foi quando olhei para o alto e vi o Sol por detrás das nuvens cinzentas, banhando os galhos altos e o chão comum entre mim e ela.
E aí está a foto deste momento também. O percurso humano guarda uma profunda semelhança com a história das árvores: o Sol nos oferece luz e calor, mesmo quando estamos na cova funda e escura, nos alimentando de luz, nos fortalecendo a ponto de conseguirmos romper a terra espessa. Talvez este momento em que vencemos a primeira das muitas etapas seja o de mais intensa dor... quando apontamos as primeiras folhas tenras e somos obrigados a nos adaptar a um ambiente até então desconhecido... ou ignorado. Mesmo que a cova escura fosse aprisionadora, o hábito de estar lá se confundia com conforto e proteção. Pensei então que os sofrimentos a que tantas vezes somos atirados e nos parecem incompreensíveis são  apenas os interstícios entre uma fase e outra; uma espécie de nó do crescimento, uma oportunidade e comprovação de que estamos a caminho. O sofrimento da alma - espécie de consciência do existir - é apenas o certificado de que nos tornaremos fortes, frondosos, frutíferos, capazes de ter para dar ao mundo - um apelo à coragem de resistir. Sim, os que sofrem a dor de existir trazem sementeiras no embornal, que vão alimentar os que passam, desprovidos de força e de fé, através do conhecimento, da sabedoria, da experiência. Ah, como são lindas as imensas árvores do caminho... Preste atenção nas estações e também poderá ver como a vida se comporta. Nossas primaveras dão lugar aos verões, que por sua vez cedem o tempo ao outono; o inverno é inevitável, mas logo a seguir será novamente primavera... e outra vez verão... outra vez e outra vez.  Se entendermos isso, saberemos esperar o inverno passar, na certeza de que é apenas uma estação. Alimentemos o solo da nossa vida de acordo com cada estação e deixemos ao Sol a tarefa maior - apenas confie. Olho para a árvore e vejo você -  folhas verdes e lustrosas nos galhos mais tenros; raízes firmes que sustentam a certeza do que será; o tronco forte que se alinha apesar do impacto dos ventos; uma seriedade visível na capacidade de resistir às intempéries. 
 Eu penso que esta árvore se parece muito com você.
Amor de sempre, sempre.
H.

Um comentário:

Marcia F. disse...

Parabéns! Texto muito bem escrito e tão bem detalhado que em minha mente, desfruto das imagens por ele criadas...
Obrigada pela visita
Marcia F.