Páginas

Mostrando postagens com marcador História. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador História. Mostrar todas as postagens

20 janeiro 2011

A História contada pela história

SEBASTIÃO

Sebastião nasceu em Narvonne, França, no final do século III, mas cresceu e foi educado em Milão, para onde seus pais se mudaram quando ele ainda era muito pequeno. A mãe de Sebastião era uma mulher piedosa e olhava o semelhante com bondade e generosidade. Se é que se pode dizer isso, Sebastião herdou da mãe o sentido da caridade e comunhão com o semelhante. As opções de trabalho, naquela época, não eram tantas; as de progressão social, então, quase nulas. Jovem ainda, Sebastião alistou-se nas legiões do Imperador Diocleciano. E vejam em que situação se meteu: Caio Aurélio Valério Diocleciano, assim com Sebastião, tinha origem humilde e ascendera à classe do "novos ricos" ao entrar para a cavalaria do imperador Caro. Na Roma militarista daquela época, as armas eram um caminho natural para os jovens. Pois bem: Diocleciano foi um grande imperador, com idéias que, de certa forma, prenunciavam o que hoje vemos nas formas de governo das nações - ops! Terá ele sido mesmo assim tão genial ao governar desta forma? Bem... Diocleciano é mais citado na História por sua maneira economicista e sua competência de governar através de apurado e inovador planejamento, e esses dois sistemas, bem como seus adjetivos, são hoje o principal viés de observação dos analistas de governo. Mas voltemos à nossa história: Sebastião era forte, corajoso e logo caiu nas graças de Diocleciano, sendo convocado a assumir o comando da guarda pessoal do imperador. Cabe aqui uma observação que a História certamente omitiria: naquela época, o amor não era prerrogativa de gênero e sabemos que o amor entre iguais era comum. Podemos pensar que Diocleciano se apaixonara por Sebastião, já que havia entre eles uma diferença insuperável, que nem assim impediu Diocleciano de elevar Sebastião ao mais alto posto do Império. Ou será que o imperador não percebia, ou não se dava ao trabalho de observar, a posição "política" de Sebastião? Além da bravura, conta a História que Sebastião era um cristão de coração. Para a História, é mais fácil acomodar certos assuntos nos corredores discretos da fé e da religião. Falo aqui de posições políticas. Mas voltemos ao assunto: a posição de prestígio que Sebastião assumira facilitava suas ações de caridade para com os cristão encarcerados, vítimas do ódio pagão em Roma naquele tempo. Entre os anos 311 e 313, Diocleciano empreendeu a última e mais sangrenta perseguição do império romano ao cristianismo. O imperador era muito bem sucedido nos seus empreendimentos de governo, conforme conta a história, mas foi exatamente a batalha contra o cristianismo que impôs a ele a maior de suas derrotas. Ele não só não conseguiu destruir a comunidade cristã como ainda a deixou mais fortalecida.
Mas voltemos a Sebastião: enquanto o imperador empreendia a expulsão de todos os cristãos do seu exército, Sebastião foi denunciado por um soldado. Diocleciano sentiu-se traído ao ouvir do próprio Sebastião que era cristão. Tentou, em vão, fazer com que ele renunciasse ao cristianismo, mas Sebastião não se acovardou: ao ser interpelado, colocou-se ao lado dos aflitos e perseguidos. Diocleciano, então, ordena aos seus soldados que matem Sebastião a flechadas - uma forma comum de condenação à época. Então, em um campo aberto, os soldados despiram Sebastião, amarraram-no a um tronco de árvore e atiraram nele uma chuva de flechas, abandonando-o para que sangrasse até a morte. À noite, Irene, mulher de um dos mártires do cristianismo, foi com algumas amigas ao lugar da execução, para tirar o corpo de Sebastião e dar-lhe sepultura. Mas ele ainda estava vivo. Não é difícil pensar que, sendo um soldado, naquela época onde o corpo e a habilidade eram as principais armas, Sebastião possa ter sido protegido das flechadas pela rígida musculatura; ou ainda que os seus algozes poderiam tê-lo poupado por uma consciência cristã latente. Mas isso a história não se interessa por investigar. Aliás, pano rápido: a História não leva em conta a coragem e resistência dos pobres e faz deles sempre uns instrumentos de confirmação de seus símbolos; e aqueles que não se encaixam nesta premissa, são ignorados. Mas isso é outro assunto; deixemos pra depois. Então, as mulheres cuidaram de Sebastião e curaram suas feridas. Passado um tempo, já restabelecido, Sebastião apresenta-se de novo ao imperador, que deve ter ficado abismado com a "aparição". Conta-se que Sebastião censurou Diocleciano pelas injustiças cometidas contra os cristãos, acusados de inimigos do Estado. Diocleciano, então, ordenou que ele fosse espancado até a morte, com pauladas e golpes de bolas de chumbo. E, para impedir que o corpo fosse venerado pelos cristãos, jogaram-no no esgoto público de Roma. Luciana, uma mulher piedosa, recolheu os restos de Sebastião e sepultou-o nas catacumbas. Mais tarde, no ano de 680, os restos mortais de Sebastião foram solenemente transportados para uma basílica construída pelo Imperador Constantino, onde se encontram até hoje. Constantino foi o primeiro imperador de uma era em que a comunidade cristã floresceu como a principal do Império. Naquela ocasião, uma terrível peste assolava Roma, vitimando muitas pessoas. Mas a epidemia simplesmente desapareceu a partir do momento da transladação dos restos mortais de Sebastião, que passou a ser venerado como o padroeiro contra a peste, fome e guerra. E foi assim que o jovem Sebastião ganhou o tratamento de "São". E para confirmar ainda mais a crença em seu poder milagreiro, quando as cidades de Milão, em 1575, e Lisboa, em 1599, foram acometidas por pestes epidêmicas, foram promovidos atos públicos suplicando a intercessão de São Sebastião. Conta-se que as doenças milagrosamente cessaram. São Sebastião é também muito venerado em todo o Brasil, onde muitas cidades o tem como padroeiro, entre elas, o Rio de Janeiro.


Então, nobre guerreiro, que protege os deserdados contra as pestes, a fome, a guerra e os preconceitos, esta Hanna, tão descrente da História dos homens, humildemente vos pede que promova seus milagres sobre o povo sofrido, vítima das enchentes e de maus governantes, que neste momento chora por um milagre na região Serrana do Rio de Janeiro. Não esqueça também, meu Santo, as outras vítimas dos mesmos males, em outras cidades do Brasil. E como sempre, defenda-nos de todos os preconceitos, que estes aniquilam tanto quanto as guerras, as pestes e as catástrofes.

Em nome do Senhor de todas as gentes, amém.
H.

As duas imagens ao alto são de Diocleciano e Constatino, respectivamente. Abaixo, estátua de São Sebastião já como representação da Igreja Católica.

PS: Ops! Chegou mais alguém no Sobretudo... Temos agora 49 amigos. Mas não consegui descobrir quem é... De qualquer forma, a casa é sua! Amor de Hanna!