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08 junho 2013

Cartas de amor

Cartas de amor... Caíram em desuso depois da internet. Os sentimentos explicitados no Facebook fazem o amor parecer bugiganga de camelô sem banca, mercadoria mal arrumada sobre um pano preto no chão - disposição estratégica para fugir quando o rapa chegar. Amor de cartas se eterniza, mesmo que morra, que acabe. Registro ensolarado de sentimentos e fatos obscuros, as cartas de amor enfeitam a dor, lavam as ofensas, desnudam as esperanças que a vida real não soube concretizar.  O que a vida torna real é registrado em documentos que não reproduzem alegrias, sobressaltos, expectativas, dores. Documento é ponto final sem texto, sem parágrafos, sem reticências. Nas cartas, o fim do amor é o último gesto de resistência, que a vida já não deixa perceber, mas fica lá, transmutando-se em promessa encantada que se recusa a não se realizar - promessa encantada, feito cristal.  Fernando Pessoa trocou centenas de cartas com Ofélia, a amada com quem nunca se casou. A correspondência foi publicada recentemente em um pesado livro. Em um dos seus belos poemas, Pessoa diz que "cartas de amor são ridículas", a que Ofélia responde: "ridículo é quem nunca escreveu uma carta de amor."
A todos, uma missiva de amor desta tola Hanna.

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