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26 março 2011

Uma pena...


Era um anjo, meio torto, meio tonto, mas um anjo. Vivia ali, embrenhado em tarefas humanas, como se anjo não fosse. O tempo passava lento, porque não importava tanto quanto, por exemplo, o jardim, as flores, os animais. Um dia, sem exatamente uma explicação que justificasse adequadamente o fato, viu-se fora daquele universo diminuto e confortável, aconchegante, pacífico. Tentou valer-se do fato de ser um anjo, de quem se deveria preservar a paz! O mundo era ameaçador! Dera-se conta, então, do tempo decorrido. O tempo nos torna humanos - demasiadamente humanos. Saiu pelas ruas do mundo arrastando um fardo que lhe pesava aos ombros - pobre anjo, que sequer percebia que o fardo era sustentado por suas asas. Já nem lembrava de tê-las. Tudo lhe pesava; tudo era demasia. Perdera os limites de si mesmo, que eram os limites de um mundo que deixara de existir, ou que talvez somente existisse em suas fantasias, ou que talvez até mesmo fosse real, mas ele não sabia mais onde ficava. O mapa do caminho era difícil de entender e de seguir. Apenas os anjos eram capazes de fazer o percurso em um tempo mais curto do que um piscar de olhos... porque somente os anjos conheciam um atalho chamado perdão. E aquele, de tão humano, já nem se reconhecia mais como tal. Lá longe, onde o pequeno mundo ficou, uma pena caída ao chão - uma esperança de reconhecimento da essência original. Jamais saberemos onde os ventos do coração poderão levar esta minúscula possibilidade. Esta é uma história sem fim.

Hanna

*Este texto é baseado na poesia de um outro autor, a quem agradeço a oportunidade da inspiração, mesmo que à sua revelia. Coisas de Hanna... rs.


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