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12 setembro 2010

Leitura silenciosa

Acho que o jornal O Globo pensa que na classe média só tem bobo. E o pior é que às vezes parece que está certo. Na pág. 15 da edição de hoje, a manchete é "Datafolha: Dilma cai entre mais ricos"; e no lide da reportagem, informa que a pesquisa foi encomendada pelas Organizações Globo, depois da divulgação, pelos próprios, do escândalo do dossiê da filha do Serra. Não custa lembrar que as Organizações Globo e Folha são sócias no Jornal Valor Esconômico. Mas, acreditem, muito me custa lembrar que as duas são empresas que fazem parte do que eles chamam de "mais ricos", e que o "produto" que fabricam se chama "imprensa", depois é que vira jornal. Pois bem: o jornal está investindo pesado neste escândalo, numa espécie de cruzada para levantar a indignação do povo com a história. "A moral é pública; o poder não tem constrangimento" (F. Dória). O jornal não é, mas tem o poder. Pergunta que não quer calar: por que não se posicionaram da mesma forma, quando o mesmo caso aconteceu com o Collor (que Deus nos livre! 1)? O processo de impichamento do ex-presidente foi baseado em um documento surripiado ilicitamente da Receita (Elio Gaspari, p.21). Mas os ainda crédulos numa imprensa honesta hão de afirmar, com toda a razão: "mas a informação de que houve o mesmo com o caso Collor saiu no mesmo O Globo!". Sim, certamente: em apenas uma linha de uma coluna semanal, contra páginas e páginas, publicadas durante dias e dias de investimento em um mesmo assunto, às vezes sem nenhuma novidade que sustente a informação dada em manchete. E hoje, domingo em que se pode ler jornal com mais tempo, a manchete sai das hostes das organizações co-irmãs, o Bope das pesquisas, que depois do tiroteio vai investigar se está lá o corpo estendido no chão. Mas como o alvo parece sair ileso, o jornal saca a manchete do "confere", colocando a arma na mão dos "mais ricos". Conforme diz Aldir Blanc em seu artigo na página de Opinião, do mesmo jornal (pág. 6), "confere" é aquele tiro extra na cabeça para garantir a eficácia do crime, como fez o jornalista Pimenta Neves com a namorada. Muito me custa lembrar que Pimenta Neves, 15 anos depois do crime, nunca passou um dia na cadeia, mesmo sendo réu confesso e condenado pela Justiça. Mas, voltando ao tema, é como eu costumo dizer para meus queridos seguidores (que não se percam pelo caminho!): um jornal nunca mente, mas manipula quando ilumina apenas o que lhe interessa, deixando na opacidade o que realmente deverá interessar ao cidadão leitor. A tal da esculachada da isenção virou estratégia de marketing (que Deus nos livre 2!) Agora convido vocês a refletirem: será mesmo que "os mais ricos" são (além de tolos, como pensa a imprensa do Globo) tão insensíveis a ponto de querer um governo só para si e que se dane o pobre? Sim, porque quando a lambança é comum a todos, já não se tem pecado, mas um sistema. Mas tratar isso com isenção e imparcialidade levaria, quem sabe, a um posicionamento mais coerente do cidadão, fazendo mudar as regras do jogo onde sempre se jogou sujo, incluindo aí o jornal. Mas isso não interessa a uma empresa que vende "imprensa", cujo maior valor do seu produto é a capacidade de construção da realidade social, o discurso da verdade baseado em escândalos selecionados. É por isso que ao Globo só interessa denunciar alguns. Pensem comigo: será que os donos do Globo é que são os tais "ricos" que querem governar só para si, como vinha acontecendo até que o Lula conseguisse romper o bloqueio??? Saudades do Jornal do Brasil da Condessa... E como diz a Rosa Leal, só volto a este jornal para ler a manchete da qual não poderão se esconder: Dilma é eleita presidente do Brasil.
Bom domingo a todos!
Hanna.

2 comentários:

Pauta Cifrada disse...

O jornal é a ata do encontro de Gutemberg com Maquiavel. A imparcialidade nunca existiu na prática. Sempre foi um objetivo. Uma ideologia seguida( ou perseguida) pelos jornalistas honestos. Mas os editores-chefes... Via de regra, são os ditadores da informação. Editadores. Paus- mandados pelos executivos que atendem a interesses comerciais e políticos da empresa. Com raras exceções, o mesmo vale para toda a imprensa. Quanto à disputa Dilmula x Serratucanado... Temo pelo futuro da classe média sobrecarregada de impostos e lamentações.

Anônimo disse...

Concordo com o comentário acima. A classe média não aguenta mais tantos tributos.Vivemos em um país perverso e que os governantes, independentes de partido ou qualquer ideologia, são subservientes do poder do capital. A rede Globo nem se comenta, pois, inventa fatos e cria realidades. Eu jurei que só votaria quando a carga de tributos fosse revista a fundo e a estabilidade do emprego tivesse pelo menos, uma avaliação por competência e mérito.
Me vejo cada vez mais impotente diante de uma elite política insensível e não comprometida com os rumos da nação.