Páginas

27 agosto 2010

Não... espera aí...Explica de novo.

A história é real pela concretude com que nos assolou, e digo isso para diferenciá-la de todas as outras histórias contadas aqui, inventadas ou não, mas que são todas verídicas. Custei a saber o que dizer sobre a notícia e surpreendi-me ao perceber um sentimento de já ter dito tudo o que era necessário dizer, com todo o afeto com que se deve tratar os que consideram que podem encontrar em nós um lugar onde se socorrer - mesmo quando fazemos isso com rigor. Pois é: ontem pela manhã, ainda no percurso de uma viagem, recebi um e-mail comunicando a morte de um jovem com quem havia convivido em sala de aula e que dera muito trabalho à maioria dos professores. Fiquei atônita ao lembrar das feições negras e belas, emolduradas por longos cabelos encaracolados, quase sempre em rabo-de-cavalo, daquele jovem estudante de jornalismo. Resumi em duas sentidas linhas a resposta ao e-mail. O que dizer nesta hora? E logo eu, tão verborrágica, sem saber o que dizer. E assim tenho me sentido, a cada vez que leio a longa lista de comentários dos amigos que respondem a todos, ao responderem ao também jovem jornalista que deu a lastimável notícia. E a cada vez que procuro o que dizer, mais se abre diante de meu pensamento a folha em branco. Mas agora sei: é que todas as palavras foram ditas em todos os momentos em que aquele jovem inquieto me interpelava - ora de maneira afável; ora desafiadora; ora confuso; ora estável. E não foram poucas vezes. Agora me dou conta de que jamais me recusei à interlocução, às aulas extras a que às vezes ele faltava, apesar de as ter solicitado; aos necessários e graves esporros. Transbordei meu afeto de professora para tentar preencher as lacunas do pensamento daquele jovem. Jamais pensei que não nos encontraríamos outra vez. No fundo, tinha a esperança de um dia encontrá-lo realizado na profissão que escolheu, e me imaginava comemorando a vitória dele, da qual me apropriaria de um cadinho. Agora vou ter que fechar todas as janelas por onde acompanhava a alegria do relacionamento dele com os amigos - orkut, facebook... Eu continuo sem saber o que dizer, como que bloqueada pela memória nítida do imortal sorriso do Herbert e de seu jeito atrapalhado de ser. Espero que não nos tenha faltado dizer nada. Mas com certeza, se eu dissesse isso a ele, ele responderia, sem perder o gancho: "não... Mas espera aí, professora...".
Querido Herbert, o que tiver faltado, tenha certeza de que Deus pacientemente explicará. E como um bom jornalista, você certamente vai saber perguntar.
Toda a paz e todo o amor do outro lado desta notícia.
Saudade sim; tristeza, jamais. Não combinaria com o seu riso largo.
H.

Nenhum comentário: