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02 março 2015

Demasiadamente humano

Nietzsche foi um dos filósofos mais importantes do Século XIX. Ele era um monte de coisas mais além de filósofo – poeta, por exemplo. Dos seus escritos filosóficos pode-se ver que não tinha muita paciência para lidar com as ideias acomodadas e com as teorias de consenso – aliás, nem eu tenho paciência para a mesmice acadêmica – eu, logo eu. Escrever é um ato de coragem, que às vezes devo confessar que me falta. Preguiça intelectual, talvez preguiça moral... ou simplesmente preguiça de me embrenhar em discussões inúteis que me estressam as veias. Ou apenas preguiça daquelas simples e baratas, sem nada mais que a possa adjetivar. Nietzsche morreu muito jovem. Tinha 44 anos quando entrou em colapso e perdeu completamente a capacidade mental. Isso foi em 1889; ele morreu em 1900. Triste sina... conspiração do universo; pensou o que podia no tempo que lhe cabia e desautorizou Deus com sua vontade de potência:"Esse mundo é a vontade de potência — e nada além disso! E também vós próprios sois essa vontade de potência — e nada além disso!”
Gosto particularmente dos aforismos em "Humano, demasiado humano", onde as verdades se mostram ligeiras, ágeis, desafiadoras e finas como uma espada de esgrima: "Toda crença no valor e na dignidade da vida se baseia num pensar inexato; (...) porque cada um quer e afirma somente a si mesmo".

Talvez daí venha a minha preguiça – qualquer esforço é apenas a tentativa de afirmação de si mesmo; uma grande bobagem. Mas vamos à poesia, que é a afirmação da alma, onde se guarda a pureza das verdades tolas, inauditas, belas, simples – mesmo em Nietzsche, porque humano, demasiadamente humano.

Ninguém pode construir em teu lugar
as pontes que precisarás passar
para atravessar o rio da vida -
ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem número
e pontes, e semideuses que se oferecerão
para levar-te além do rio;
mas isso te custaria a tua própria pessoa;
tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho
por onde só tu podes passar.
Aonde leva? Não perguntes, segue-o.
(Nietzsche)

No mais, beijos de Hanna em profusão.


28 fevereiro 2015

Viagem...voragem

Alguma coisa acontece... sempre. E é bom que seja assim, para que nossos olhos não fiquem demasiadamente voltados a uma cena única. O mundo é cheio de ilusões, e às vezes temos o impulso de trocar todo um longo percurso já vencido por momentos parcos de descanso, aconchego, paixão, alegria, volúpia, prazer, gozo, sono, preguiça - catarses e aflições de espírito, que a permanência engendra e nos faz desejar, com toda a ênfase de quem merece o prêmio. Hora de voltar à estação e esperar o aviso do trem. Malas abertas, saltam velhas lembranças que lá foram esquecidas ao longo de tantas viagens. E todas cantam alguma música para distrair a memória; acalanto, canções de ninar.Vida louca, vida breve... Eu vou descendo por todas as ruas e vou tomar aquele velho navio...Um dia eu volto, quem sabe... O vento vai levando tudo embora... Mas a vida continua e se entregar é uma bobagem!
Olha só o que eu achei...

H.


10 janeiro 2015

O general, o poeta e o cantor...sobre (in)certezas

Ah! Esqueci do lead! Na postagem aí embaixo, eu pretendia dizer que ao tentarmos nos lançar ao que desejamos, ou quando decidimos tomar decisões para resolver questões fundamentais que sempre adiamos, é comum gelar de medo, insegurança, como crianças assustadas. E a situação fica pior ainda quando, depois de vencermos esta primeira etapa, temos que decidir o que fazer da vida! Já pensou em quantas vezes você desistiu no meio de um caminho que estava quase levando você até lá? Pois é. Aprendemos a desacreditar de nossas competências, embora tenham sido elas que nos trouxeram até aqui e nos fizeram sobreviver a todos os percalços efetivamente vividos. E isso às vezes resulta em depressão, em desânimo crônico. Uma espécie de "eu quero a minha mãe!!!", figura simbólica da proteção e amparo. Às vezes, apenas simbólica mesmo. Mas a nossa mente desamparada diante da decisão de assumir o comando quer voltar para o colo a qualquer preço, seja lá que colo for. E adiamos viver, voltando para um playground imaginário, onde alguém está cuidando de "tudo" - tudo o que você adiou, porque, se prestar bem atenção, você continua dando conta de estar no mundo, seja lá como for, porque viver é preciso, embora não seja exato. Que tal pegar estes instrumentos de navegação e planejar uma viagem para fora dos playgrounds onde andou se escondendo, hein?
Nossa, fiz lá embaixo um nariz de cera tão grande que esqueci do lide...rs. Mas agora que você já leu o lide, que tal dar uma passadinha no nariz de cera aí embaixo? Se não gostar do texto, tem Fernando Pessoa e Caetano Veloso para compensar. Vai lá!
Bom fim de semana, com o amor de sempre.

H.