Vou a um lugar que não conheço e onde jamais passei. Abro as palavras de Cortázar sobre a mesa, como quem abre um mapa que poderá guiar toda a viagem. Deixo aberta a janela para que o vento possa mover as linhas que demarcam a região, escrevendo sobre as palavras que o lugar certo é ali. Julio Cortázar nasceu na Bélgica, de pais argentinos. Apesar de ter nascido geograficamente em outro país, ele é argentino porque o parto foi na embaixada argentina em Ixielles, distrito de Bruxelas. Cortázar começou a escrever poesias aos nove anos de idade e é considerado um dos grande mitos da literatura moderna. Ao lado de Jorge Luis Borges, ele influenciou toda uma geração que lutava pela liberdade na América Latina, durante o período das ditaduras. Um de seus livros mais famosos é o fantástico Jogo da Amarelinha, que pode começar a ser lido a partir de qualquer parte, em qualquer ordem, desvendando em cada uma um sentido novo. Cortázar também escreveu contos e histórias curtas, das quais posto estas duas aí embaixo. Se eu não for acometida pela liberdade de prometer e não entregar, como geralmente acontece, prometo passear com vocês por alguns autores argentinos, porque é pra lá que eu vou (humm, peguei vocês...rsrs. Pensaram que eu ia pra Bélgica e não voltaria mais, né?..rsrs). Então, fiquem com as historinhas curtas de Cortázar e reparem que bela imagem poética ele construiu: "...eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água". Mágico, não?
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"Até agora, nunca tinha amado as suas amantes; havia algo nele que o levava a tomá-las demasiado depressa para ter tempo de criar a aura, a zona necessária de mistério e desejo que lhe permitisse organizar mentalmente aquilo que poderia um dia chamar-se amor".
"Toco a sua boca com um dedo, toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se, pela primeira vez, a sua boca entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que minha mão escolheu e desenha no seu rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade, eleita por mim para desenhá-la com minha mão em seu rosto, e que, por um acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que minha mão desenha em você. Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de ciclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõe-se, e os ciclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem, com um perfume antigo e um grande silêncio. Então as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se estivéssemos com a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água".
Pesquisinha básica sobre outra obra maravilhosa de Julio Cortázar, direto da Wikipedia para os curiosos e preguiçosos. Vou reler este livro hoje... na praia!
"O livro Histórias de Cronópios e de Famas foi escrito por Cortázar em Roma e Paris, no período de 1952 a 1959, mas foi publicado em 1962. Ofereceu uma espécie de reinvenção do mundo através de seus personagens, os "cronópios", os "famas" e as "esperanças", que alcançam sensibilidade e fascínio na medida em que traduzem a psicologia humana. Os cronópios, segundo Cortázar, são criaturas verdes e úmidas, distraídas, e sua força é a poesia. Eles cantam como as cigarras, indiferentes ao cotidiano, esquecem tudo, são atropelados, choram, perdem o que trazem nos bolsos e, quando saem em viagem, perdem o trem, chove a cântaros, levam coisas que não lhes servem. Os famas, pelo contrário, são organizados e práticos, prudentes, fazem cálculos e embalsamam sua lembranças; quando fazem uma viagem, mandam alguém na frente para verificar os preços e a cor dos lençóis.
As esperanças "são sedentárias e deixam-se viajar pelas coisas e pelos homens, e são como as estátuas, que é preciso ir vê-las, porque elas não vêm até nós"
Pesquisinha básica sobre outra obra maravilhosa de Julio Cortázar, direto da Wikipedia para os curiosos e preguiçosos. Vou reler este livro hoje... na praia!
"O livro Histórias de Cronópios e de Famas foi escrito por Cortázar em Roma e Paris, no período de 1952 a 1959, mas foi publicado em 1962. Ofereceu uma espécie de reinvenção do mundo através de seus personagens, os "cronópios", os "famas" e as "esperanças", que alcançam sensibilidade e fascínio na medida em que traduzem a psicologia humana. Os cronópios, segundo Cortázar, são criaturas verdes e úmidas, distraídas, e sua força é a poesia. Eles cantam como as cigarras, indiferentes ao cotidiano, esquecem tudo, são atropelados, choram, perdem o que trazem nos bolsos e, quando saem em viagem, perdem o trem, chove a cântaros, levam coisas que não lhes servem. Os famas, pelo contrário, são organizados e práticos, prudentes, fazem cálculos e embalsamam sua lembranças; quando fazem uma viagem, mandam alguém na frente para verificar os preços e a cor dos lençóis.
As esperanças "são sedentárias e deixam-se viajar pelas coisas e pelos homens, e são como as estátuas, que é preciso ir vê-las, porque elas não vêm até nós"
E para os que gostaram desta prévia, segue a bibliografia das principais obras deste genial escritor argentino, com os links originais da fonte da pesquisa:
- Presencia, 1938 (sonetos) (Sob o pseudônimo Julio Denis)
- La otra orilla, 1945.
- Los reyes, 1949 (teatro) (Os Reis)
- Bestiario, 1951 (cuentos) (Bestiário, 1986, Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
- Final del juego, 1956 (cuentos) (Final de Jogo)
- Las armas secretas, 1959 (cuentos) (As Armas Secretas, 1994, Rio de Janeiro: José Olympio). Faz parte desse livro o conto Las babas del diablo (As Babas do Diabo), que inspirou Antonioni para o filme "Blow-up".
- Los premios, 1960 (novela) (Os Prêmios, 1983, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira)
- Historias de cronopios y de famas, 1962 (misceláneas) (Histórias de Cronópios e de Famas, 1964, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Valise de Cronópio, 1974, São Paulo: Perspectiva)
- Carta a una señorita en París, 1963
- Rayuela, 1963 (novela) (O Jogo da Amarelinha, 1994, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira)
- La autopista del Sur, 1964
- Todos los fuegos el fuego, 1966 (cuentos) (Todos os Fogos o Fogo, 1994, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira)
- La vuelta al día en ochenta mundos, 1967 (cuentos).
- El perseguidor y otros cuentos, 1967 (cuentos).
- Buenos Aires, Buenos Aires, 1967
- 62/modelo para armar, 1968 (novela) (62/ Modelo para Armar)
- Casa tomada, 1969.
- Último round, 1969.
- Relatos, 1970.
- Viaje alrededor de una mesa, 1970.
- La isla a mediodía y otros relatos, 1971.
- Pameos y meopas, 1971 (poemas).
- Prosa del observatorio, 1972 (Prosa do Observatório, 1974, São Paulo: Perspectiva)
- Libro de Manuel, 1973 (novela) (O livro de Manuel, 1984, Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
- La casilla de los Morelli, 1973.
- Octaedro, 1974 (cuentos) (Octaedro, 1986, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira)
- Fantomas contra los vampiros multinacionales, cómic, 1975.
- Estrictamente no profesional, 1976.
- Alguien que anda por ahí, 1977 (cuentos) (Alguém que anda por aí, 1981, Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
- Territorios, 1979 (cuentos).
- Un tal Lucas, 1979 (cuentos) (Um tal Lucas, 1982, Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
- Queremos tanto a Glenda, 1980 (cuentos) (Um dos contos foi publicado no Brasil, sob o título Orientação dos Gatos, 1981, Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
- Deshoras, 1982 (cuentos) (Fora de Hora, 1984, Rio de Janeiro: Nova Fronteira)
- Los autonautas de la cosmopista, 1982 (Os Autonautas da Cosmopista) – Em colaboração com Carol Dunlop, sua companheira.
- Nicaragua tan violentamente dulce, 1983 (Nicarágua tão Violentamente Doce, 1987, São Paulo: Brasiliense)
- Silvalandia (baseado em ilustrações de Julio Silva), 1984.
- Salvo el crepúsculo, 1984 (poesía).
- Divertimento, 1986 (obra póstuma) (Divertimento)
- El examen, 1986 (novela, obra póstuma) (O Exame Final, s.d., Rio de Janeiro: José Olympio)
- Diário de Andrés Fava, 1995 (Diário de Andres Fava, s.d., Rio de Janeiro: José Olympio)
- Adiós Robinson y otras piezas breves (teatro), 1995 (Adeus, Robinson e Outras Peças Curtas, 1997, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira)
- Obra Crítica, editada em 1998, no Rio de Janeiro: Civilização Brasileira
Besos calientes e contentes de Hanna!!!!
2 comentários:
Olá Hanna,
estava passeando pelos blogs e encontrei sua postagem sobre o Cortázar. Entre no blog da nossa cia de teatro. Acabamos de montar uma peça inspirada no História de Cronópios e de Famas. Engraçado que quando li o subtítulo do seu blog achei a cara desse livro.
beijos
www.coletivocronopio.blogspot.com
Olá! Sejam bem vindos! Gosto muito do Cortázar e especialmente deste livro, História de Cronópios e de Famas. Não estava pensando nele quando escrevi o subtítulo, mas vai ver que sou influenciada pelo estilo de Cortázar. Nesta vida nada se cria...rs. Adorei sua visita. Vou visitar o blog de vocês também.
Bjs.
H.
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