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28 outubro 2009

Conto minimalista


"Meu reino por uma declaração", ela disse como quem implora e sonha, recostando-se enternecida na cama estreita do quarto exíguo que era,  na verdade, toda a extensão de seu reinado. Aconchegou-se  a si mesma adornada de ilusão, expandindo seu território para além do que a realidade cercava. Dormiu na certeza de que o dia que estava por nascer traria consigo a correspondência do que o devir deveria ser. Uma declaração, um bilhete, uma carta — já não importava. Ela esperava apenas uma mensagem que poderia estar guardada no silêncio, na página em branco, escondida no gesto mudo, na mansidão adormecida do nunca mais chegar. Cansada, ela suspirou e dormiu. Aí então o dia amanheceu como um lençol de seda inflado no ar, descendo suavemente sobre toda a vida. O toque transparente da realidade branca na pele nua a fez suspirar. Um arrepio, um bocejo. A cortina se abriu, ela acordou e esqueceu.


Hanna Stael 





Esta postagem foi inspirada no espetáculo O Grande Circo Místico — que assistimos duas vezes! Eduardo Germano, com sua voz forte e grave e o rosto pintado com uma grande lágrima azul,  apresentou-se  divinamente em um coral que cantou a belíssima música de Chico Buarque e Edu Lobo, Beatriz. Foi emocionantemente lindo.
Parabéns, Du!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo Hanna! bju