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28 abril 2011

O circo da equilibrista


A intuição me diz que devo manter os olhos nos pratos que giram sobre a minha cabeça, no alto das varetas que estão todas nas minhas mãos. O importante é não deixar cair nenhum deles, pelo menos enquanto durar o espetáculo. Muito cedo na vida perdi minhas poesias, e o que restou foram apenas as palavras, que tento adestrar como domadora de circo. Olha os pratos! Não vá deixar cair as lágrimas que embaçam os olhos e tiram a graça do espetáculo. Olhe bem as palavras, que são as mesmas que fazem rir ou chorar. Que importa o que está escrito? Que diferença faz para a emoção tardia? A vida acontece fora das palavras, dentro dos pratos que giram sobre nossas cabeças. É preciso manter as palavras em seus devidos lugares, conjugadas em perfeita harmonia, como quem seca discretamente os olhos com o dorso da mão. Olha os pratos!!!! No picadeiro, o palhaço anuncia: respeitááável público! E a troupe se alinha, cada qual ocupando o seu papel. Os sorrisos na plateia se anunciam, como um cordão que aos poucos vai abrindo a cortina, desvendando as atrações do grande circo. Os pratos? Ah, os pratos... Eles estão sempre no mesmo lugar, no alto das varetas, girando sobre a minha cabeça, como se soubessem que não podem cair.
H.


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