Páginas

04 janeiro 2011

Era mesmo verdade


Artimanha... Nunca havia usado esta palavra em um texto antes. Na verdade, estava pensando em arte e manha, quando comecei a escrever. Foi quando me dei conta de que nunca havia me interessado pela palavra. Sei o que significa, mas fui buscar a definição dicionarizada. Artimanha: s.f. astúcia, ardil, fraude, dolo. Na verdade, eu não sabia que para lá da astúcia, artimanha carregasse sentidos tão pesados. É... mas cabem todos na frase: a vida é cheia de artimanhas. Certa vez, em Lumiar - um lugar na serra fluminense, perto de Friburgo, famoso pela beleza paradisíaca e pela enorme quantidade de sapos - presenciei uma cena que ficou na memória como graça e beleza de criança, mas que hoje percebo que era mais que isso, e compartilho com vocês. Foi assim: Mariazinha, uma criança esperta e delicada como uma bailarina, caminhava cuidadosamente pelo caminho de pedras em meio à grama, enquanto as outras crianças maiores falavam dos sapos que coachavam como um coro naquela noite iluminada apenas pela grande lua e um mar de estrelas. Eram história de sapo para assustar Mariazinha, que seguia com os bracinhos abertos, pé ante pé, cuidadosamente pelas pedras do caminho. Todos ríamos felizes com as histórias inventadas de sapos gigantescos que os meninos juravam ter visto. De repente, Mariazinha desistiu de parecer corajosa e gritou:
-Parem de falar de sapo! Eu odeio sapo!!!!! Neste momento exato, ela correu para alcançar logo a casa e, sem perceber, pisou em uma perereca, que pulou assustada para trás! Os meninos gritaram: Ai, um sapo!!!! Mas Mariazinha nem se deu ao trabalho de conferir, certa de que era apenas uma brincadeira para assustá-la. E não houve jeito de convencê-la de que realmente havia pisado em uma perereca. Ela dizia: Claro que não... eu teria morrido se isso acontecesse. Eu odeio sapos e pererecas. Mas era verdade...
Moral da história: a vida é cheia de artimanhas, mas às vezes nem nos damos conta e seguimos adiante. E é bom que seja assim. Falo isso por ter tomado conhecimento, apenas ontem, de uma história que eu não vi, embora tivesse estado lá o tempo todo. Custo a acreditar, assim como Mariazinha. Acho que eu teria morrido, se aquilo acontecesse... Mas era mesmo verdade. Hoje, no aconchego da minha vida, na lareira acesa do meu amor, no carinho fértil de amizades sinceras, na constatação de mim mesma, vejo com distanciamento as artimanhas da vida. E penso que não devemos mesmo nos preocupar. Se ao longo da jornada ouvirmos histórias assustadoras, ainda assim sigamos o nosso próprio destino. Pisaremos em ardis, fraudes, dolos, astúcias, assim como Mariazinha pisou na perereca que nem viu.
Dentro de mim mora um anjo, que me protege e me faz contar histórias.
E como sempre, amor!
H.

Nenhum comentário: