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28 novembro 2010

Um mergulho profundo


Nem todos os dias são de sol. E é bom que seja assim, para permitir a reflexão de tudo o que floresce nos dias de calor e luz. Nestes dias, tudo aconselha a quietude, o recolhimento. Mas quem de nós suporta o frio sem tremer, sem buscar avidamente o calor que nos possa trazer de volta ao aconchego do tempo de sol? Mas às vezes é tarde e o mundo inteiro parece estar distante. Mesmo contra nossa vontade infantil, o que nos resta é a quietude e a reflexão. Esta manhã me pareceu fria e nublada, apesar do sol. Custei a abrir as janelas e admitir a luz do dia. Via pelas frestas que deveria estar um dia lindo e iluminado, mas me demorei na cama até que... Bem, aqui começa uma história totalmente real, verdadeira e exclusiva. Sabem todos vocês que habitam este grão de universo virtual que a sabedoria oriental milenar é uma das preferências de leitura desta Hanna que vos estima. Pois então: penso que a mesma realidade é diferente para cada um de nós. Podemos estar lado a lado, com os olhos e sentidos voltados para a mesma direção e ainda assim descreveremos de forma diferente o que ocorre naquele naco de realidade. Digo isso para justificar uma intuição que sempre me ocorre quando vejo - e vejo muito! - os pássaros que voam por aí. Sempre acontece de um passarinho, uma gaivota, um pombo, uma garça se colocar diante de mim ou fazer um voo rasante à minha frente como que para chamar-me a atenção. Tive, certa vez, o pensamento pretensioso de que esses lindos pássaros estavam ali exclusivamente para mim. Isso mesmo: exclusivamente para mim, exibindo-se para mim, alegrando apenas os meus olhos, me mandando um recado, me dizendo algo. Vocês não têm idéia de como isso acontece e de como se tornou uma rotina no meu cotidiano - ser surpreendida por um ser voante, colorido, grandes, pequenos, pequeniníssimos como as lindas borboletas. Já me voltei para trás para me certificar de que um passarinho, depois de oferecer sua graça no ar, pouso atrás de mim, para que eu o olhasse. Nossa... e não é que ele estava mesmo lá. E se deixou olhar por longos minutos, andando aos saltinhos, sem se assustar com a minha observação. Tem sido assim com os mais lindos pássaros que já pude observar de tão perto. E cheguei à conclusão de que eles estão, sim, exclusivamente para mim. Que outros olhos os teriam visto, desta forma como os vejo? Outro dia, andando pela praia, vi uma gaivota mergulhar entre pessoas que estavam na água, ali perto da Colônia dos Pescadores, no Posto 6, de Copacabana. A maioria se apressou em sair de perto; outros sequer se deram conta e nem viram a bela ave submergir em voo perfeito, estremecendo as asas para secá-las. Fiquei olhando da praia e percebi que o espetáculo estava para todos, mas nem todos foram capazes de ver. Deixei meus olhos acompanharem a gaivota por longo tempo. E aí pensei: ela está fazendo isso só para mim. Supreendentemente, ela veio se aproximando em vôo manso, deu umas voltas à minha frente, e de novo mergulhou sem trazer o peixe que deveria ter ido buscar. Pensei outra vez: ela está fazendo isso só para mim; para que eu tenha certeza de que escolho a realidade que quero viver e que esta realidade pode ser ampliada pela beleza do que está para todos, mas nem todos conseguem ver. Sei que vocês devem estar se perguntando: mas o que isso tem a ver com um dia triste? Respondo então: quando comecei a escrever sobre um dia triste, ouvi dois pássaros cantando do lado de fora da minha janela (ainda fechada). E eles cantavam cada vez mais alto, como se um falasse e o outro respondesse. A "falação"deles chegou a tal ponto que eu não consegui mais prestar atenção ao que estava pensando em escrever. E aí resolvi contar essa história verdadeira da minha... digamos... amizade com os pássaros. Abro a janela e percebo, finalmente, que lá fora há um belo e iluminado Sol, com pássaros lindos por todos os ares. Cabe a mim decidir vê-los... ou não.
A todos vocês que me surgem como pássaros encantados todas as vezes que venho aqui escrever, e aos encantadores pássaros que me presenteiam o olhar, amor!
Desta Hanna de sempre.

PS.: Aos mais céticos, que estranham o que vejo, devo repetir o que já disse antes: para ser louco, é preciso ser muito especial. E esta Hanna que a todos deixa entrar em seus pensamentos não é nem um pouco especial. Hanna é a mais comum dos seres... como os pássaros que voam por aí, mas que a grande maioria nem se dá ao trabalho de ver. E é bom que seja assim. A vaidade é um tormento que pesa sobre nossas asas e as impede de voar.
Agora, vou lá fora aproveitar o mar. Bom domingo!

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