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25 abril 2010

Mergulho entre as pedras do mar


Diante da página branca, vejo-me a desafiar a memória emotiva para que me dê uns versos. Nada acontece, além de verbos soltos que se conjugam em frases por hábito e que nem histórias sabem contar. Onde foi parar a imaginação? Onde, o sofrimento que desagua a inspiração até não poder mais verter as palavras aprisionadas nas malhas do ser? Não sei se vale a pena a troca - essa paz pesada como uma tampa de poço. Sim... mas a água é muito limpa. Roubo versos mortos. Meus pensamentos não falam comigo. Mudaram de assunto. Não se importam mais com aquele desejo teimoso que veste de fantasias um passante qualquer, iludindo-me de possibilidade de construção do ideal palpável, visível, concreto, vivente. Como ser assim tão despojada de meus fardos? Tento gestos que se expandem e alargam, livres do peso fantasmático que sumiu. Quase me desprego de mim mesma, tal a leveza que me invade. Como é mesmo que se é feliz? Não, isso não nos deixam aprender. Antes, nos obrigam a ir aos poucos esquecendo, à medida que nos tornamos o que esperam de nós - no mínimo adultos. Os palhaços que em mim residem me protegem como um pelotão de costas largas, barrigas falsas, risos congelados por tintas fortes, vermelhas e brilhantes. Descobri seus segredos por detrás do riso desenhado. Não, não chorem em mim, palhaços... não em mim que acreditei que eram felizes. Terá sido assim que aprendi que tudo é apenas uma versão e que toda história tem sempre um outro lado? Bem que me avisaram: não vá lá, não vá lá não... As minhas saias amplas são tecidas a teimosia e vento; eu sempre vou. Volta e meia deixam-me a bunda à mostra. Aprendi a aceitar que não há esforço sem ilusão, porque nada na verdade vale a pena de nos destroçaramos até o caroço - frutas que mal se deixam amadurecer antes que se ofereçam às mordidas da contradição. É do destino, diriam os mais velhos... é do destino. Teimosia não leva a nada, dizem os conformados, mas diverte, mas diverte... Um dia, quem procura há de achar... ou não! Mas o que importa? A vida é farta e infinda. O melhor é seguir andando e deixar passar. Um dia, quem sabe? E a graça está exatamente aí... em não saber e continuar tentando descobrir. Jogo de faz de contas... contas, contas... Com quantas contas se faz um conto? Com quantos contos se tece a vida? Onde está minha vontade que abandonou o sentimento? Onde está a ilusão que sempre suspeitei ser falsa? Bobagens, bobagens... Com quantas bobagens se consegue preencher uma página vazia...
Hanna, dispersa.

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