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29 janeiro 2010

Coluna do Otelo

OLHEM BEM PARA ESTE HOMEM, QUE NÃO ESTÁ NOS JORNAIS

"Sob a égide de Lula, o Brasil se transformou em um país mais próspero, mais igualitário e mais saudável".  Estas foram as palavras com que o ex-secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan, saudou o presidente da República do Brasil, ao agraciá-lo, por intermédio do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, com o Prêmio Estadista Global, o primeiro desta categoria. O discurso de Lula, que foi lido por Celso Amorim, começava com a frase emblemática, que resume as demandas e o credo do Fórum Social Mundial: "Outro mundo é possível". Vejamos agora como vão tratar o assunto os colunistas de plantão,  que ora reclamam quando Lula vai a Davos; ora reclamam quando ele não vai; metem o malho quando ele não vai ao Fórum Social Mundial, e o esculacham quando vai. Vá entender... Mas um coisa é fato: se os participantes do Fórum Social Mundial não entenderem que, ao estilo de Lula, eles conseguiram invadir os salões nobres da conferência de Davos e não pararem de acender fogueiras de ocasião na imprensa quando Lula vai lá, então perdemos de vez o foco de sinceridade na letra central do título do encontro paralelo.
Voltando ao tema
"Uma casa só é forte quando é de todos", afirmou Lula, que disse também que "o Brasil foi um dos últimos países a entrar na crise e um dos primeiros a sair dela, graças a essa mesma política". E afirmou ainda, do alto de suas vassouras de trabalho, e não apenas da bancada de presidente que ocupa, que é preciso "estabelecer regulações claras para evitar riscos absurdos que nos levem a outra crise". O otimismo e a capacidade de liderança, do presidente do Brasil foram elogiados por Kofi Annan: "Seu caminho de uma infância de pobreza até se tornar um estadista respeitado no mundo todo é destacável e deve inspirar a todos, porque, além disso, fez isso com sua luta contra as desigualdades de seu país e do mundo", afirmou Annan. "Sob a égide de Lula, o Brasil se transformou em um país mais próspero, mais igualitário e mais saudável". A imprensa brasileira deveria considerar isso um fato altamente relevante e dar a este expressivo mérito — que é do país! — o merecido destaque. E me pergunto: por que diabos a pressão alta do Lula mereceu mais destaque na primeira página do Globo e a honraria ficou diluída no texto? Por que raios um título que admite que o Brasil saiu da crise tem que realçar que, apesar disso, a indústria saiu mais fraca nas exportações? Por que, me digam, ao relatar as atividades do presidente que levaram à estafa e pressão alta, iluminam-se as viagens, com um pequeno e malicioso detalhe que o leitor geralmente "reconhece" sem perceber? Vamos à integra do texto, sob o título Dupla Jornada do Presidente, na primeira página da edição de hoje:
"Em 2009, foram 83 dias viajando pelo Brasil e 91 dias no exterior (três meses), visitando 31 países". 
Os parênteses que informam que 91 dias são o mesmo que três meses (desnecessariamente, na minha humilde avaliação, até porque  três meses não perfazem 91 dias nem por um cacete)  mostram a astúcia do apontamento do texto. Reação provável do leitor: "Nossa, três meses "visitando" 31 países! Uma vergonha!Igualzinho a todos os outros!. "Visitando", meus caríssimos visitantes, é o mesmo que passear, né não? Ou vocês estão em missão oficial quando "visitam"o Sobretudo? A diferença está em que as "visitas" puseram o Brasil no alto do pódium. Lula afirmou, ainda, que é preciso mudar de modelo, e é preciso fazer isso rápido. "Não sou apocalíptico, pelo contrário, sou otimista, mais que nunca nosso destino está em nossas mãos", disse, defendendo que "é o momento de reinventar o mundo e as instituições. O mundo perdeu a capacidade de criar e sonhar, e devemos recuperá-la". Mas não é isso que toda a gente  lê, vê e ouve na imprensa. A imprensa está apenas constipada? Ou seria preciso reinventá-la também?
Otelo Coelho
(com sutis interferências da assistente que acredita em liberdade de expressão, ao que Otelo salta um metro do chão: "será que ela estaria confundindo liberdade de expressão com liberdade de imprensa?)

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