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17 dezembro 2009

Histórias quase verídicas de Hanna


Olá, queridas pessoas!
Lembram da lagarta? Eu prometi que voltaria a falar sobre ela, mas era uma espécie de intuição. Pressentia que encontraria novamente com esta personagem, e somente então seria possível dar notícias a respeito dela. Pois bem: eu a encontrei numa destas manhãs ensolaradas, entre um dia ou outro de chuva. Estava exausta em um canto de muro perto da minha casa, na sombra, com uma gigantesca amendoeira retorcida à sua frente, impedindo-lhe a  visão do mar, logo ali adiante. O dia estava exuberante e eu me sentia como que... diáfana — acho que essa palavra estranha descreve bem meu estado de alma naquele instante. Talvez apenas por isso tenha conseguido vê-la, ali, arfante e aparentemente assustada. Trazia um resto de casulo preso às patinhas traseiras. Abaixei-me e fiquei olhando para ela. Mal conseguia respirar e tentou contar uma história triste, de algo terrível que lhe acontecera e que provavelmente a impulsionou em fuga até ali. Não quis ouvir. Olhei para o sol e senti o vento suave e morno acariciar o meu rosto; respirei fundamente aquele cheiro de mar. Um arrepio percorreu todo o meu corpo. Estava um dia esplêndido! Quase sem me dar conta, retirei o resto de casulo que prendia a criaturinha ao chão. A proximidade da minha decisão assustou-a um pouco, mas não houve tempo para reagir — sim, ela reagiria, eu sei. A casca tosca e morta se desfez entre meus dedos, deixando que toda a simplicidade e leveza comum às borboletas pudesse se expandir. As cores das asas se iluminaram e luziram ao sol, enquanto ela se espreguiçava. Parecia acordar de um sono longo. Tentei tocá-la e ela voou... alto, longe em rodopios, em direção às árvores floridas. Espero que tenha conseguido ver o mar. Levantei-me e segui embora, aproveitando aquele belo dia.
H.

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