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17 setembro 2009

Vamos mergulhar, mergulhar, mergulhar...


Os peixes talvez sejam os únicos seres que não podem sair do seu habitat natural — a água — sob pena de perecerem. E assim a maiaoria deles segue, sem saber que existe outro mundo lá fora, cheio de outras formas de vida e de possibilidades. Não que o "lá fora" seja superior ao universo dos peixes, algo com que se deva sonhar. Não; é apenas um outro lugar, uma outra forma de vida, uma outra possibilidade. E a humanidade segue, cada um na sua limitada posição, com preguiça e sem vontade, como diz a música. Muito embora nós possamos transitar, com nossa infinita criatividade, pelos universos paralelos (vamos lá importunar os peixes; assustar os pássaros; deixar nossas pegadas na lua; tentar roubar os anéis de Saturno...) ainda temos lugares que acreditamos fechados a nós. O habitat natural dos seres humanos, apesar de toda a liberdade de ir e vir para qualquer mundo, é a sua própria limitação; suas crenças em suas limitações e em seus lugares marcados. E como os peixes, ficamos aprisionados nas impossibilidades de escolher, de decidir, de mudar, de correr, de voar, de sentir, de... enfim. Em geral, acreditamos que a morte (metafórica) nos aguarda do lado de fora do nosso ninho. E mesmo que o ninho já esteja desconfortável, resistimos e permanecemos lá, com todas as justificativas que nos garantem que lá devemos mesmo ficar. Aprendemos isso muito cedo e a lição foi repetida durante muito tempo na nossa vida. É!  Nós, os adultos, somos apenas o resultado do que a criança que fomos assimilou como verdades. E as crianças não costumam desconfiar — e nem podem! — daqueles que  lhes dizem o que elas podem ou não podem; apresentando-lhes um mundo de perigos, inibindo assim a ousadia e transformando o que deveria ser vir-a-ser em nada mais que um dever-ser. E pensem que, assim como os peixes, tendemos a repassar para nossas espécies apenas aquilo que somos ensinados a ser, numa forma de corrente. Os peixes, pela genética; nós, pelos medos; medos protetores, é certo, mas mesmo assim, medo. E os medos, não importa o que lhes justifiquem, são igualmente, apenas... medo. Quem já não se viu obrigado a não ficar brincando na rua até mais tarde "porque o homem do saco vai te pegar"?; quem já não tremeu de aflição "porque o bicho-papão..."?. Temos uma história de crenças e temores que nos inibiu a certeza de que podemos muito mais do que pensamos; de que somos muito mais do que acreditamos.  Talvez seja a memória longínqua de um dia ter sido uma espécie muito ameaçada, não sei. Amor  materno é cercado de temores... Hoje, infelizmente, somos nós a grande ameaça. Sim, talvez porque também tenhamos aprendido que devemos reagir belicosamente a tudo o que nos pareça ameaçador, mesmo que o que pareça ameaça seja apenas... simples diferença. Nos aprisionamos nas crenças que nos limitam, como se fôssemos peixes que não podem viver "do lado de fora".  Mas vejam: até os peixes, que acreditamos que não pensam (mas será que  eles, também, apenas "acreditam"?) desafiam as limitações que lhes obrigam a ficar onde estão. Já ouviram falar nos peixes voadores, não? Os peixes voadores pertencem a uma família de cerca de 40 espécies de peixes carnívoros e herbívoros da família Exocoetidae, encontrados apenas em mares de águas mornas. Ao contrário do que se possa imaginar, esses peixes  não "voam" na correta acepção do termo,  como as aves. O que eles fazem, na verdade, é ganhar impulso para dar grandes saltos, abrindo as barbatanas para planar. Eles conseguem ficar no ar por até 15 segundos, cobrindo uma distância de cerca de 180 metros; alguns conseguem o recorde de 400 metros! Estes sabem que existe um outro mundo lá fora. Mas se pudessem contar para os outros peixes, certamente seriam ridicularizados e considerados delirantes ou mentirosos. Aqui, do outro lado da história, acreditamos que eles não fazem isso em um exercício de superação de suas condições, mas que voam apenas para fugir dos predadores,  principalmente tubarões, atuns e golfinhos. Mas pensem bem: se fosse mesmo apenas isso, todos os peixes voariam, não acham? Quem sabe essa não é mais uma versão da história de homem-do-saco e do bicho-papão? "O Brasil não tem os tipos tradicionais de peixes voadores, mas as águas amazônicas abrigam uma espécie parecida: é o peixe machadinha, que faz vôos bem mais curtos, de 1,50 metro de distância", está escrito no site Mundo Estranho (!?), a fonte de onde tirei as informações sobre os peixes voadores. E aí me ocorreu uma coisa "estranha": será que, além do bicho-papão, nós também voamos mais baixo e mais curto só porque acreditamos que nossos  voos não podem ser grandes, porque...  somos brasileiros?!

Voltei!!!!!!!!!

Fiquem bem e aproveitem o dia. Façam algo novo. Ou tudo novo de novo, para quem já está acostumado a desafiar os limites e a ordem estabelecida (por quem?!). Ah! Falando nisso: tem Paulinho Moska aí embaixo, com "Tudo novo de novo". Tudo a ver.
Hanna.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, pertinente e sincero! Muito bom! Como somos contidos em nossas possibilidades né mesmo?
Parabens!!!
abçs

Hanna disse...

Obrigada, Márcia! Somos contidos sim. Mas podemos desaprender o que nos ensinaram e aprender tudo novo de novo. Seja bem vinda.
Abraço.
Hanna

Anônimo disse...

obrigada Hanna,vc tb,bj
Marcia