Ainda não era meio dia e o Sol mostrava seus raios com extrema humildade para quem é astro rei. Nem os mais esotéricos poderiam imaginar que naquele momento haveria uma concessão astral, de tão discretos que eram os sinais. Nem mesmo os xamãs se deram conta de que as portas amplas do universo discretamente se abriam, deixando vazar luz tão intensa, que seria capaz de ofuscar até o Sol. A luz que vinha de lá inundava tudo - montanhas, mares, nuvens, ventos, tudo o que sobre a Terra já fora criado. O êxtase infiltrava-se mansamente pelos poros vibrantes dos seres e do planeta - alegria estranha que exultava sem ter porquê. E de repente, uma multidão, tocada pelo calor da intensa luz, acorreu em direção àquele rio largo de correnteza incerta, que fluía para todo lado. Desejavam todos atravessar a porta e buscar a pedra mágica de onde emanava tamanha claridade. O universo, naquele instante, era aberto e receptivo e a todos deixou entrar. No afã de encontrarem a fonte e trazer para si um pedaço de luz, atropelaram-se uns aos outros e guardaram nas mão fechadas o que conseguiram pegar, cada um o seu cadinho. E a razão aconselhava a todos com o velho adágio - "mais vale um pássaro na mão do que dois voando!". Era suficiente o que conseguiam levar. Mãos fechadas, apressaram-se a voltar para os seus lugares de sempre, suas preocupações e dores de sempre, seus sonhos e desejos sempre iguais. Mas desta vez, pensavam todos, eles tinham uma pedra mágica que produzia a alegria, o êxtase, o calor e a luz. Tudo estaria de acordo e suas vontades seculares seriam realizadas. Alguns, ao chegarem de volta, abriram logo as mãos para começar a usufruir da realização dos desejos postergados. Mas, incompreensivelmente, as mãos mostraram-se vazias...não havia nada lá. Outros, assustados e ansiosos, abriram as mãos lentamente e encontram apenas o medo, quebrado em pedacinhos que se multiplicavam a cada olhar. Outros sequer abriram as mãos para não deixar vazar nem um pouquinho de valioso achado. Estes nunca souberam o que havia exatamente ali - se tristeza, se alegria, se amor ou redenção. Outros, ainda, foram abrindo as mãos aos pouqinhos, na esperança de fazer demorar o instante mágico de ser feliz, tão acostumados que estavam com as expectativas e as desilusões. E à medida que lentamente abriam as mãos, a luz ia-se esvaindo, misturando-se à vida, tornando-se a tudo igual. Sentindo-se desiludidos e ludibriados, voltaram-se todos para o lugar de onde veio aquela luz. A porta já estava fechada. Do lado de fora, em um carnaval de enexplicável alegria, estavam os frágeis, o sensíveis, os receptivos, os intuitivos, os esperançosos, os xamãs, os bruxos, as feiticeiras, as crianças, os sábios, os esotéricos, os malabaristas, os poetas e alguns outros que o manto do segredo não deixava ver. Todos aqueles que geralmente ficavam sempre atrás e nunca conseguiam entrar. Os últimos, entre aqueles que sempre chegam primeiro. Estavam todos banhados em intensa luz - sorriam e amavam-se de mãos abertas, corações abertos, mentes quietas; não pareciam precisar de mais nem um pingo de luz. Tinham o que lhes bastava sem nem ter tido que buscar. Com as mão abertas para o ar, bebiam direto da fonte clara de um universo que está sempre lá - um universo que só tem portas para aqueles que precisam de portas para conseguir entrar.A essência da liberdade está no ato de mudar de idéia - porque é fácil contrariar a vontade de outros; o difícil é contrariar a vontade de si mesmo.
Como de sempre, amor.
Hanna
Como de sempre, amor.
Hanna
PS.: Em Goiás, a partícula verde luminosa era Césio 137. Mas aquelas pessoas que foram contaminadas poderiam estar alinhadas com os frágeis, os ingênuos e os poetas. Os últimos entre os que chegam primeiro. Eram apenas ignorantes, deixados de lado pelo poder público que geralmente, ao abrir a mão, transforma em lixo o que o universo oferece como solução. A todos um fim de semana de paz.
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