E de repente as lágrimas começaram a vir, uma a uma, à superfície dos olhos. Não era previsto, não estava nos planos daquela mulher. E ela contava cada gota que caía, no desejo ingênuo de comparar com os rios que já tiveram aqueles olhos como nascente. Na conta do pensamento mágico, era simples assim. Alguns poucos desejos, algumas parcas alegrias, um quase romance, uma paisagem não concluída convertidos em poucas lágrimas, que ela contava no afã de se certificar de que eram mesmo tão poucas. A dimensão da dor era equivalente à dimensão do desejo, que ela mensurava por aquele fio d'água que insistente corria pelo seu rosto. Ela tentava racionalmente recolher as fantasias, para se convencer de que havia sido mesmo quase nada. Cabia tudo em uma pequena caixa: sonhos, desejos, alegrias, afagos não concebidos...Não, não eram assim tão poucas as ilusões. Quando tentava incluir as lágrimas, a caixa não fechava. O que seria o destino? O que premedita o acaso? Haveria um plano? Quem comanda a razão? Quem inventou a distância? De onde vêm os sonhos? O que seria a vida se aquela caixa se fechasse...ou se estivesse vazia? Era da natureza daquela mulher encurralar a dor pela astúcia da razão. Não queria ter respostas; a ela bastavam as perguntas. Tinha um certo gosto pelo segredo. Talvez tivesse sido isso que infiltrou seu coração - o segredo e a tradição, estampados em um mapa que não desvendava o lugar, indicando apenas onde estava o céu. Ou teriam sido aquelas longas conversas que atravessavam a madrugada e invadiam o território dos sonhos? Impossível saber - o fato é que as tintas da vontade de paixão já haviam alterado a paisagem, preenchendo de sentido o espaço entre as montanhas lá no fim do mar. Não importava mais saber... Bastavam, como sempre, as perguntas. O tempo se encarregaria de acomodar todas as coisas. A paisagem e o mundo haveriam de voltar ao seu antigo lugar. O sol que iluminava o lado de lá das montanhas era apenas uma miragem de seu olhos verdes, imaturos. O som da voz que nunca ouviu se apagaria aos poucos. Os risos, os carinhos, a alegria e o desejo que nunca se realizaram voltariam a esperar. Não... não havia nada real sobre o que chorar. Ela se levantou e saiu, deixando para trás a caixa que ficou aberta para a possibilidade de o acaso se decidir a entornar.
Há coisas na vida que valem a pena mesmo não tendo acontecido...ou talvez valham apenas por isso

Quando temos sensibilidade para verdadeiramente ver o trabalho delicado que Deus fez sobre o universo, nós estamos nos encontrando com Ele. E desse encontro a gente nunca volta o mesmo, para o mesmo lugar. Trazemos um pouco de divindade nos olhos e colorimos nossa vida com outras tintas, mudando de lugar. E se compartilhamos o que vimos, descrevendo em fotos, palavras e êxtase, estamos oferecendo um pouco de Deus para o outro. E se o outro aceita... Deus sorri, porque valeu a pena o esforço para a realização do trabalho. Que o dia de todos seja pleno de consciência cósmica, permitindo que se emocionem de alegria por Ele nos ter incluído na paisagem.

Quando temos sensibilidade para verdadeiramente ver o trabalho delicado que Deus fez sobre o universo, nós estamos nos encontrando com Ele. E desse encontro a gente nunca volta o mesmo, para o mesmo lugar. Trazemos um pouco de divindade nos olhos e colorimos nossa vida com outras tintas, mudando de lugar. E se compartilhamos o que vimos, descrevendo em fotos, palavras e êxtase, estamos oferecendo um pouco de Deus para o outro. E se o outro aceita... Deus sorri, porque valeu a pena o esforço para a realização do trabalho. Que o dia de todos seja pleno de consciência cósmica, permitindo que se emocionem de alegria por Ele nos ter incluído na paisagem.
Pôr do Sol em São Francisco
Foto: Anselmo Veríssimo
Foto: Anselmo Veríssimo
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