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23 novembro 2008

Da simples e irreprimível vontade de escrever


Por que escrevemos, se escrevemos sempre para um alguém hipotético? As hipóteses são fantasias do real; se pretendem espelho do inexistente para desafiar a realidade que, pelo simples fato de existir, é por natureza tosca, fosca, sem o brilho que apenas a imaginação pode conferir aos pensamentos, fantasias e até à própria realidade.
Mas a pergunta ainda ronda: por que escrevemos, se escrevemos para interlocuções hipotéticas? Com quem falamos, se ainda loucos não nos acreditamos? Para uma multidão fantasma... ou para um fantasma na multidão? Para quem falam os loucos que não se dão conta dos circunstantes? Para quem falam os que insistem em falar? Por que falam? Para que serve o que falam? Não sei. Dia desses, alguém passou por aqui e me ouviu falar sobre as samaumeiras -árvores centenárias que guardam lendas neste pedaço da Amazônia. Ela ouviu atenta e ficou feliz pelo que soube, e muito, muito tempo depois disse assim: "amei esse post no seu blog, acho muito importante esse sentimento de preservar a cultura brasileira, que é tão rica, e semeá-la para todos aqueles que quiserem ler. Estou levantando dados sobre lendas de árvores indígenas e este post caiu como uma luva". E hoje, um amigo perguntou onde eu andava, porque as únicas coordenadas que indicavam meu paradeiro eram as do blog: "em que cidade você está?" E fiquei pensando: para quem falam os loucos e os que escrevem? Talvez para a certeza de que são lembrados, talvez para uma vaidade extremada que os faz pensar que são amados; talvez por que às vezes são úteis, ou apenas porque são livres... e loucos. Então, para quem interessar possa, estou em Belém do Grão Pará, às vésperas de voltar para o Rio de Janeiro. E como presente para a pesquisadora das árvores, que eu não conheço, a gravura de uma samaumeira agassiz, feita sobre a foto de um viajante francês no final do século XVIII. E a todos, inclusive aos inexistentes e hipotéticos, como sempre, amor.
H.

Um comentário:

deabreu disse...

Menina vc sempre inspirada, muito poetico, bom de se ler, beijos teu leitor de longe, mais que ta sempre perto. Ceceu & Wilma