 Foto: José Carlos Harduin
Foto: José Carlos HarduinDesta vez roubei um barco de um pescador de sonhos que parou ao meu lado e eu convidei pra dançar. Ele aceitou, tomou-me nos braços e rodopiou, entregando-se à vertigem que eu já trazia em mim. Saímos em valsa pelo mundo afora, passeamos por um vilarejo romântico ao Sul da Itália; por uma aldeia encantadora debruçada em frente ao mar...  marinas suaves depositadas sobre as águas que o sol delicadamente coloria. Havia um mundo para andar, e ficamos sem saber exatamente como ir. Entramos na igrejinha de São Pedro e pedimos o barco, o rumo, a vela, o vento, o prumo, com a certeza apenas de que já estávamos a navegar. Ele me disse que eu estava no alto e eu disse que queria descer. Pedi que me ensinasse o caminho de volta;  que mostrasse onde estava a escada que me traria de novo para perto do mar. Ele ficou ali parado, acariciando meus cabelos, olhando as águas que já haviam diluído a cor do sol, trasmutando-se langidamente em um fino véu de luar. E ele ficou assim tão quieto, espreitando a certeza que nenhuma resposta podia dar. Fiquei lá onde estava apenas eu, sem saber sequer onde era esse lá . E o vento foi balançando de leve o barco, as velas, a vida, o mar... e tudo o mais foi-se indo embora, suavemente embora... como quem solta as mãos, deixa deslizar os braços, afasta mansamente os corpos, porque a música cessou e não há mais o que dançar. Adiante, mais além, lá bem longe, o mar... apenas o mar.
 
 
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