
Audiência qualificadíssima me fez voltar ao antigo design. Esse com cara de papel velho que a gente passa a vida inteira guardando só para não esquecer que o tempo passou e que deixamos lá atrás alguma coisa que gostaríamos de ter trazido conosco. No papel velho fica gravada a prova irrefutável de que o passado existiu, não foi invenção da nossa mente esquecida e carente. Gosto de papéis e algumas coisas ponho neles para que envelheçam e me lembrem sempre do que eu decidi viver — como uma bússola que distrai o magnetismo, conquista autonomia e põe o Norte onde bem entender. Gosto dos papéis que contam histórias do futuro e que nos podem acompanhar apesar do tempo que lhes tinge as bordas. Papéis a quem nada se quis dizer, dobrados em quatro, perdidos dentro de livros grossos. Um dia no futuro eles aparecem, envelhecidos, com as linhas das quatro partes marcadas fundo, como se fossem linhas de uma face — marcas de expressão... os papéis envelhecidos são a pura expressão; contam histórias com minúcias de cenários, detalhes de emoções, dores, ilusões... mesmo que neles não haja nada escrito. Como são coniventes com as palavras os papéis. Não os guardamos impunemente. Se nada escrevemos, basta-lhes o texto que transborda por nossos dedos e se espalha em silêncio sem letras ou traço; bastam as marcas da pressão nas quatro dobras. Ao encontrá-los, no futuro, vemos lá tudo outra vez, sem que falte uma única letra, a nos falar daquele dia, daquela tarde, daquela noite, da brisa, da chuva, do calor, da esperança, do medo, da dor, do amor, da alegria, da saudade. Os papéis envelhecem conversando com o passado, e quando nos encontram, retomam o assunto e começam a contar tudo outra vez. E não adianta negar... estão lá nossas digitais. Volto ao antigo "papel" e não resisto a pensar nas coisas que me fizeram escrever o que andei escrevendo por lá. Então tá...
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