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04 abril 2010

Longe dos olhos da Razão

Longe dos olhos da Razão, o coração se apaixonou pelo pião.
A Razão é narcísica — odeia tudo o que não se assemelhe a si mesma. Seus argumentos são quase matemáticos; raciocínios que se pretendem ciência pura — a solução precisa de um equilíbrio insolúvel, insondável, que faz do mundo humano o mais infeliz de todos. A Emoção é tola, diz a Razão, e assim entendemos o funcionamento da vida. A Emoção nos desvia do caminho, nos apanha de surpresa, nos faz relativizar o plano seguro que havíamos traçado ou que traçaram para nós. A Emoção enlouquece, diz a Razão. Sim, somente a Razão é capaz de observar, comparar, definir, analisar, julgar e condenar a que tudo siga o caminho reto da servidão. A Razão tem a síntese dos juízos a priori; teórica, só reconhece o resultado da experiência, fornecendo as leis práticas que devem guiar a vontade. A Emoção... o que é a emoção? Desejo, vontade, pensamento, surto, demência, defeito? Sentimento inexplicável, para onde nos leva a emoção? Toda resposta nos remete ao texto pronto da Razão, aconselhamentos pautados na comparação e repetição. Se, ao final de tudo, já não se puder divisar a mais pura das emoções e o que restar for apenas um grande desastre, a Razão estará lá, com suas mãos lisas e macias de quem não se permitiu a possibilidade escarpada do errar em nome de algo que se intuía muito maior. Sim, a Razão estará lá, regendo um coro invisível que entoa o canto do "eu avisei" e do "bem que eu sabia". A Razão é hegemônica e tem imunidade na hora dos acertos finais. Nunca se fez a pergunta se a falha na realização de tantos belos desejos se deveu, na verdade, à prevalência da decisão racional, guiando a atitude irracional. Isso mesmo: será que a Razão tem mesmo sempre razão e a solução ideal que garanta sempre um final feliz? Não podemos saber, porque temos medo dos riscos do querer e o tribunal de nossas ações é corrompido pelas astúcias da Razão. E o coração tem razões que a própria Razão desconhece, lembram? Talvez por isto louvemos os loucos e os poetas, olhando-os e invejando-os a uma distância segura. Alguns deles tiveram a ousadia de desafiar a Razão em nome de uma chance real à Emoção. Dos que temos conhecimento, sabemos pelos escritos; outros, talvez, tenham finalmente se rendido à Razão. Mas outros ainda, quem sabe, tenham se perdido completamente nas águas límpidas da Emoção... e nem quiseram desperdiçar o tempo a escrever.
Amor.
Hanna

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