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12 março 2010

Emaranhamentos e desembaraços

Somos o que somos quando estamos distraídos de nós mesmos. É preciso sensibilidade aguçada para se perceber a sutileza dos detalhes. Se prestarmos atenção, poderemos ter acesso ao ser que se definitivamente é. E é aí que reside a essência do que poderemos vir a amar. É preciso não perder de vista este instante fugaz e revelador, para que não se ame a roupa pelo usuário — a armadura, pelo cavaleiro; a lingerie, pela dama. Todo este cuidado poderá tornar mais fácil encontrar a equação da felicidade, embora não haja garantias. Da mesma forma que a roupa veste o usuário, mas não se confunde com ele, a felicidade veste o amor, mas não são necessariamente um par constante, ou a mesma coisa. Mas ao menos evita-se o risco de se amar gato por lebre * — sapatos, estilos, casacos, sainhas, chapéus, maquiagem, escovas marroquinas, ternos, prestígio, paletós, esmaltes, perfumes, carros, posição, pastas de couro, laptops, mochilas, batons, pela pessoa que se forja dentro de cada um dos modelos de gente que o mundo pinta, oferece e vende. Aprendemos e repetimos sempre que a primeira impressão é a que fica, mas será esta primeira impressão assim tão reveladora? Será mesmo possível ver, por baixo de tantos "panos", quem se verdadeiramente é? Não sei, não. Mas acho que quando nos distraímos de todos estes "nós", acabamos revelando quem somos nós. Por isso é preciso prestar atenção. O resto é conversa para o botequim, ou quiosque, para os que preferem.
A todos, muitos beijos, porque os tenho de sobra!
H.

* Mil perdões aos adoráveis gatos pela infeliz utilização de sua imagem, fruto de um cultura que nos diz que as lebres têm mais valor. Vivemos em uma sociedade que estimula os equívocos, quando se trata de valores. O problema, na verdade, seria amar os gatos e buscá-los na imagem de lebres e vice-versa. Nada contra as diversas espécies, incluindo aí a espécie humana...rsrs.
Hanna, baiana

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